I
Nunca fui particularmente bom com editoriais: esses textos constitucionais de um grupo que trazem as linhas de força, as citações-chave e as dignificantes conclusões que ditam o andamento de um projeto e, em último caso, concebem a uma Instituição uma manifestação antropomórfica quase sempre presa a um discurso ameno e elusivo.
Ser a voz de um monolito institucional, uma logo, ou o contrário, dar rosto a um monolito institucional, sempre me pareceu algo bastante metafísico. A verdade é que até hoje George Orwell algum conseguiu me inculcar uma imagem desse processo quimérico que me fosse de fácil compreensão.
Essa newsletter que agora você lê, leitor, por outro lado, não é apenas uma logo. E eu que vos falo não pretendo ser, aqui, apenas discurso. Por certo, se há algo que posso afirmar neste momento inaugural (quer eu queira ou não) é que a [MAGAZINE] se trata de um projeto completamente pessoal e, por tal, tudo o que você lerá e experimentará por aqui corresponde não mais que a um diálogo comigo, Diego.
Nesse sentido, se há algo a ser explicado, citado ou concluído nesse primeiro momento, há de ser sobre mim.
II
Ao contrário de meus pares acadêmicos e escritores, não fui um leitor aficionado desde a infância. De fato, por muitos anos, a minha onda era o visual: fotografia, histórias em quadrinhos, desenho, artes plásticas. Apesar de ter praticado todas enquanto amador medíocre (mesmo que hoje me considere um colagista digital razoável), o meu verdadeiro interesse sempre foi hedonista, isto é, de me deleitar em um painel erótico de Milo Manara ou me surpreender com a genialidade do olhar fotográfico de Elliott Erwitt.
Ainda hoje, enquanto curador da página MAGzine, o meu processo de seleção para este tipo de arte é bastante simples: se em segundos aquela imagem me cativa, ela me tem.
Literatura, por outro lado, era um fardo escolar. Páginas e páginas escritas há 100 anos por homens aristocráticos - que nunca viram uma TV ou uma eleição por voto democrático, me preconizando o que era o certo, o bom e o moral da vida - passavam pelos meus olhos sem muito apelo. Foi apenas com a faculdade e o contato com literatura contemporânea - e a sua realidade muito mais próxima da minha -, que o gosto por essa forma de arte enfim desabrochou.
Tanto gosto, como não poderia deixar de ser, também me trouxe para a escrita. Esta, em seu princípio, ainda muito ligada às artes visuais: os zines Viçosa e IDEIAFIXA, por exemplo, escritos durante a minha graduação, foram imaginados majoritariamente com a composição fotográfica em mente:
Quanto mais o interesse pela literatura aumentava, produzir narrativas e caprichos poéticos já não bastavam por si só: a ideia de escrever sobre a literatura passou a ser tão grande quanto minhas inspirações ficcionais.
Com o tempo, vieram artigos, dissertação, tese (em curso), comunicações, eventos. Abriu-se o mundo acadêmico. Mas a sisudez do padrão ABNT não conteve o frenético consumo de diversas produções de entretenimento ou arte popular contemporânea (que passam longe dos olhos de doutores e mestres) durante os meus anos de pós-graduação. Dessa forma, o interesse em escrever sobre literatura foi se transformando em um interessante em escrever sobre qualquer coisa, seja ela a representação fantasmagórica na última temporada da série Atlanta, como Kanye West lida com a religiosidade e autoconsideração em suas músicas ou mesmo sobre o papel da masculinidade no livro mais recente do Alejandro Zambra.
Nesse ponto, tal qual Michel de Montaigne - que já ensaiou até sobre polegares -, vi no ensaio a forma ideal para expor meus sentimentos e reflexões em palavras, palavras estas que invadiam gradualmente um espaço de expressão antes único das artes visuais. Nascia então a revista ensaio.
Nessa revista, que criei junto aos amigos Lucca e Fernando (que logo se somaram novas amigas, como Laura e Mayã), pude escrever sobre a relação do ex presidente Arthur Bernardes com a cidade de Viçosa, o filme-ensaio, a identidade latino-americana na atualidade, o fenômeno de Torto Arado e a queda da literatura do eu assim como o conservadorismo de George Steiner e seu leitor ideal, fazendo, claro, um contraponto ao crítico inglês ao exaltar o leitor comum. Por mais, para além de afiar minha escrita na ensaio, exercitei também o ofício da leitura visto o meu papel como editor-chefe do folhetim enquanto este durou.
A revista, contudo, acabou. Mas a vontade de ensaiar ficou. E cá estamos nós. Do começo de algo novo.
III
A ideia da [MAGAZINE], então, é simples: toda segunda-feira de manhã você vai receber na sua caixa de emails um envio que pode ser (1) um ensaio sobre algum assunto que me provoque indagações (um livro, tema literário, álbum e ocasionalmente outras produções culturais); (2) uma resenha de um livro novo ou antigo; (3) um email de nome “impressões e indicações” em que elenco uma série de (surprise) impressões e indicações de livros, canais no YouTube, textos ou qualquer coisa que eu pense que valha o meu e o seu tempo; (4) por fim, alguma atualização sobre a newsletter, podendo ser um anúncio, uma promoção, sorteio ou mesmo uma cortesia.
Inclusive, sobre essa última opção, este é, de certo modo, um desses emails, afinal, como parte da “inauguração” da newsletter, OS 25 PRIMEIROS INSCRITOS DA [MAGAZINE] GANHARÃO UM EXEMPLAR DO ZINE VIÇOSA, que pode ser enviado para qualquer lugar do Brasil1. Então se você está lendo isso e não é inscrito, se inscreva. E se a proposta da [MAGAZINE] te agradou, não se esqueça de recomendar a newsletter para outras pessoas. Vamos fazer da [MAGAZINE] um espaço polifônico.
Um forte abraço e até breve,
Será enviado por correios um (1) exemplar do zine Viçosa para cada um dos 25 que primeiro se inscreverem por email na newsletter. Caso a pessoa premiada não queira o envio, o exemplar será oferecido ao inscrito subsequente, contabilizando um total máximo de 25 exemplares enviados.