Ontem, 3 de julho de 2023, por mera coincidência, subi a 440 postagem no feed da MAGzine, página que me dedico à curadoria artística no Instagram há praticamente 4 anos interruptos.
Do primeiro post ao 440, numa brevíssima recapitulação, muito parece ter mudado, tanto em mim quanto na página: de minha parte, alguns cortes de cabelo, uma porção de livros lidos e os primeiros cabelos brancos; da parte da página, e o que mais importa neste texto (ainda que, acredito eu, seja o mais desinteressante), uma significativa alteração no algoritmo do Instagram - que se tornou cada dia mais faminto por conteúdo - mudou radicalmente os rumos do projeto.
Veja, no começo, tudo eram flores.
Isto é, arroz e flores.
“Um sábio uma vez disse que você deve comprar arroz e flores. Arroz pra viver, e flores pra ter pelo que viver", era o adágio que, ao longo dos anos 2010, norteou minhas pretensões artísticas e/ou profissionais.
Foi através deste, por exemplo, que ingressei no DeviantArt - “A maior comunidade de arte do mundo”, segundo a própria plataforma - há 15 anos e publiquei minhas primeiras tentativas com a fotografia e lightpainting. Foi também por meio dele ingressei nas Letras (e me dediquei paralelamente à Comunicação) onde passei a me comunicar com meus pares, não necessariamente motivado por implicações acadêmicas (arroz), mas pela necessidade coletiva que manifestávamos de dar voz ou forma para nossas criatividades e vivências (flores). O resultado deste diálogo, como é sabido, foi majoritariamente expresso na revista ensaio e nos zines IDEIAFIXA e Viçosa no fim dos anos 10.
Com MAGzine não foi diferente.
Com a página, queria organizar meus mundos de prazer e fruição. Traçar as linhas, mapear as referências que me norteavam artisticamente e aprender a navegar por entre elas.
O intuito, enfim, era preparar a terra para fecundar as sementes do que viria a ser tanto o arroz como as flores de minha vida profissional/artística.
Contudo, a cada nova semana de 40h e demandas cada vez mais exigentes, um futuro onde ambos os frutos da terra viriam à luz do dia foi se tornando cada vez mais distante do meu horizonte. Desapercebido, contudo, fui encontrando, a reboque desse processo, na própria organização deste material uma forma de arte.
A arte de curar.
De artista em artista, de arte em arte, segui coletando, esmerando e organizando não apenas a produção de terceiros mas a minha própria relação com a arte. Apuravam-se, gradualmente, tanto o feed da MAGzine como minha percepção artística e, com efeito, num primeiro momento, todo este trabalho teve uma recepção relativamente positiva.
Por suposto, mentiria se dissesse que no começo de tudo, entre 2019-2020, não tive “grandes” pretensões com o projeto. “Quem sabe se não registro tours em museus, faço mini-docs, entrevistas artistas, uma interconexão maior ano i: ensaio ou até mesmo - perdoe-me, leitor, tamanha ingenuidade - monetizá-lo de alguma forma ou de outra”, foram algumas das preocupações a ocuparem minha mente.
Mas uma pandemia, uma tese, duas revistas literárias e uma newsletter depois, acredito que dificilmente poderia ter investido mais tempo e recursos numa página que, fundamentalmente, mesmo se eu o tivesse feito, estaria fadada ao fracasso.
Sim, não só a MAGzine não decolou como eu gostaria de 2020 para cá como a maioria das páginas de curadoria de arte e fotografia não sobreviveram as mudanças de algoritmo proporcionadas pelo Instagram. Quer dizer, num novo jogo de produção de conteúdo demandado pela rede social - que se baseia pesadamente no vídeo, rostos falantes e sorridentes e principalmente uma onipresença de posts diários com a intenção de manter a maior retenção possível -, páginas de “curadoria” se tornaram completante obsoletas.
Como efeito reflexo e proporcional de um novo cálculo de expectativas, a partir do fim de 2021 e começo de 2022, minhas intensões com a página já não eram as mesmas.
A queda, na realidade, foi dura.
Do desencanto, contudo, sobreveio o hábito.
Hábito que, hoje penso, sempre esteve em mim, mesmo antes da página vir ao ar. Este Hábito de me aproximar da arte, por vezes de supetão
, por vezes à mineira, e de ter com ela um choque criativo. Produtivo. No qual, saídos do choque, ambos seriam modificados, cada qual em sua nova rota.
O que antes envolvia pretensão e grandes sonhos, então, passou ao lazer e ao hobby em seu sentido mais banal e constante. Quer dizer, ao menos na superfície.
Assim, enquanto a pagina recebia cada vez menos likes e compartilhamentos a cada troca de fase na MAGzine (marcada pela troca de cores), eu me apropriava, sem saber, mais e melhor de sua potência para elaborar as artes da ensaio e, posteriormente, da Terceyro Mundo.
E este hábito, formalizado na dialética da teoria-prática, se tornou tão impregnado no meu fazer artístico, agora trasladado para a [MAGAZINE] que, se faltam textos em tempos recentes, confesso, não faltam artes para estes mesmos textos.
Com efeito, mesmo quando não me tocam as musas da palavra, sigo praticando o ofício da arte visual - tenho aqui uma pasta cheia de artes sem ensaios - que, se em sua obviedade se conectam com a collage e demais técnicas do concretismo, penso agora, ganham outras dimensões vindas do que, há 4 anos e 440 publicações depois, venho me atendo.
Do solo curado, enfim, não sairão arroz ou flores. Mas será a terra mesma, pelo que percebo, matéria-prima e fonte de inspiração.
Um forte abraço,