INDICAÇÕES
[EVENTOS] EVENTOS ACADÊMICOS
Acabo de voltar de Salvador onde estive no XVIII Congresso Internacional da ABRALIC (Associação Brasileira de Literatura Comparada). Saio dessa experiência baiana e acadêmica igualmente com uma boa impressão do meu próprio trabalho - surpreendentemente elogiado por alguns - assim como pelo trabalho de outros pesquisadores que pude conhecer no evento no sentido que, em alguma medida, estes me deram coordenadas para não me achar um lunático gritando contra uma nuvem.
Nem tudo foi flores, é claro. O bom e velho papelzinho lido nas mesas redondas (alguém te dá um palco e é isso que você tem para performar para o seu público?), certo debates ultrapassados e o próprio desgaste natural de um evento de 5 dias vão, aos poucos, agregando tons de amargor no doce da vida.
Ao leitor que não esteve nas soteropolitanas noites e dias que deram o tom da ABRLIC de 2023, posso apenas supor, o meu relato e indicação de eventos acadêmicos podem parecer uma espécie de devaneio: que graça tem um evento cheio de acadêmicos falando academiquês sobre temas acadêmicos?
Por suposto, esta indicação não servirá a todos.
Ao fim e ao cabo, nenhuma recomendação serve igualmente a cada pessoa.
Contudo, caso você esteja na posição de ir num evento acadêmico - de modo que esteja cursando algum curso no momento, fazendo pesquisa, seja professor ou esteja em qualquer classificação da fauna acadêmica -, não deixe de ir em um evento da sua área caso a oportunidade surja.
Se, por um lado, eventos acadêmicos costumam ser o termômetro de como anda o seu departamento, a sua universidade e até mesmo a sua profissão, por outro lado, a troca entre os pares, que seja pra se organizar entre uma causa comum ou pra brigar - “O conflito é sempre codificado, a agressão não é senão a mais acalcanhada das linguagens”, nos lembra Roland Barthes - pelos corredores da instituição anfitriã, é o que, em grande medida, dita a temperatura desse mesmo termômetro.
Termômetro este, claro, que se mede não só nas mesas redondas ou exposição de pôsteres, isto é, no academiquês de acadêmicos, mas também nos quartos de hotéis, quadras cheias de colchões (só quem já foi em eventos nacionais sabe do que eu estou falado), mesas de bar e cochichos aos pé do ouvido.
Fundamentalmente, o que falo aqui, para além da academia, é manter dialogo com seus pares. E não há nada como um evento para isso. Se divirta. Não leve tudo tão a sério. E saiba aproveitar a companhia de seus colegas e amigos.
[ÁLBUM] KILLER MIKE - MICHAEL (2023)
Em alguma medida, preciso agradecer meu grande amigo Fernando Teixeira nessa indicação. Foi ele que, anos atrás, me indicou o duo de rap underground chamado Run The Jewels que hoje me possibilita hoje vir recomendar o mais recente álbum de Killer Mike, Michael (2023) a vocês.
Por certo, recomendar o próprio Run The Jewels seria chover no molhado.
Com várias participações em scores cinematográficos, parcerias com a [Adult Swim] e até mesmo sendo referenciados na Marvel, minha indicação nunca teria o mesmo impacto do vanguardismo de Fernando que, sempre de olho no novo, pode olhar a joia bruta antes de ser lapidada pelo sistema a quase uma década atrás.
E, em alguma medida, sei que, por esse exato motivo, essa indicação não agradará meu caro amigo, mas se faz necessária, quer dizer, após uma década levantando a bandeira revolucionária de “matar seus mestres”, Killer Mike parece demonstrar com seu primeiro álbum solo em 11 anos uma fragilidade individual e individualista algo contraditória, algo meritocrata mas profundamente complexa que, enquanto meu amigo de longa data desaprovaria, eu diria que demonstra um retrato complexo de um rapper no auge de sua arte.
Tal qual 4:44 (2017) de Jay-Z, o álbum mostra as disparidades de um rapper ao atingir sua meia-idade e, ao contrário de querer quebrar o sistema ou, na posição de um outsider, navegar em suas brechas - comum nas façades do gangster ou revolucionário -, demonstra um cansaço e uma humanidade (palavra essa quase perdida em tempos pós-modernos) completamente congruente com a sua jornada de vida como pessoa e artista.
Para além das questões líricas, tal qual seu antecessor, a sonoridade do álbum é simplesmente maravilhosa e demonstra uma evolução sônica que dificilmente não afetará o prosseguimento do próprio Run The Jewels em projetos subsequentes.
O álbum vale muito o play que você pode dar no Spotify, Youtube ou no seu tocador de preferência.
[NEWLETTERS] BOLETÍN DE GUADALUPE E LUCAS LUIZ
A cada oportunidade que eu tenho de atrair mais pessoas para o substack, me coloco de prontidão a falar das benesses que é a plataforma e o formato da newsletter.
Claro, escrever numa plataforma sempre tem seus prejuízos e não nos livra de certa dependência do sistema posto. Contudo, há sistemas e sistemas e vejo no atual modelo do substack pelo menos 2 grandes vantagens frente às demais redes sociais:
1) o formato da newsletter, privilegiado aqui, não segue (ainda) às regras de algoritmos, ou seja, estamos num espaço onde a interação do autor com seu público - a depender da rede social, a disparidade de um engajamento considerado saudável do Instagram, por exemplo, e de uma newsletter pode ser de que 500%, com larga vantagem para o segundo - tende ser a mais frutífera e o conteúdo realmente entregue;
2) ao contrário de uma plataforma como o Medium, na qual o assinante da plataforma (e não dos autores) salpica centavos aos escritores que lá tentam fazer qualquer forma de renda pelo seu trabalho a cada leitura de um texto, no ambiente do Substack, por outra via, o autor ou autora podem cobrar um valor digno por uma assinatura diretamente do seu público que além de ler o material regular também tem acesso a textos extras, clubes de leituras, cursos entre outras regalias.
Pois, na última semana, conseguimos angariar mais dois nomes para o Substack e o universo das newsletters. Me refiro ao Lucas Luiz e a Layla de Guadalupe.
Lucas Luiz, escritor e cronista natural de Guararema-SP, já foi citado na [MAGAZINE] em algumas ocasiões pela sua percepção técnica da poesia. Luiz, que vinha de um projeto bastante minucioso no Recanto das Letras, agora também está no Substack:
Com sua grande aliada, a paciência, Luiz agora também brindará nossas caixas de email com seus textos.
Já Layla de Guadalupe é escritora, dramaturga y bruja latina de sp/cria da sul. A autora de Cadela (2022) e A história do gozo (2019), acaba de subir o texto de estreia do seu Boletín de Guadalupe, intitulado “A Teoria do Espelho e outras formas de usar os dedos”:
Segundo a autora, o foco do Boletín será a elaboração e tensionamento
“dos temas que sempre trouxe pra debate nas redes sociais nos últimos anos, como por exemplo política, psicodinâmicas, literatura, mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, mercado editorial e cultura latinoamericana e periférica. Além disso, também vou compartilhar poesias inéditas, traduções de poesias e outros formatos de textos como contos e ensaios de autoras latinoamericanas, trechos do novo romance que estou escrevendo, e o que mais a imaginação permitir”,
como a mesma afirma no seu Instagram.
Aos meus novos colegas de Substack, dou as boas-vindas. E para vocês, meus caros que me leem, deixo a indicação.
Um forte abraço,