IMPRESSÕES
[SÉRIE] ANDOR (2022 - )
Muito tenho lido sobre a Revolução Cubana e seus desdobramentos para encerrar a minha tese ainda esse ano: a luta contra Fulgencio Batista, a instauração do governo revolucionário, a cooperação de uma intelectualidade envolvida na causa de uma nova aurora descolonial sob a América Latina, os conflitos internos, a instauração de contrarrevoluções ditatoriais no cone sul, o caso Padilla, as fugas de Cuba, a criação de instituições que legitimassem o projeto latino-americanista e revolucionário (como a Casa de las Américas), enfim, tudo o que moveu o imaginário e as armas em nosso contexto histórico-político principalmente entre as décadas de 1960 e 1980 e que, de alguma maneira, ainda causa arrepios em muita gente.
Talvez seja por esse sentimento, de arrepio, que a série Andor - produzida para o lore do Star Wars como um prelúdio ao filme Rogue One (2016) - tenha me pegado de um jeito tão significativo.
Confesso que já fazia um tempo que esse universo tinha me desinteressado. Com séries e filmes fracos vindos de uma fábrica sem criatividade em reciclar a mesma jornada do herói de novo e de novo, meu prazer em assistir produções Star Wars foi se esmorecendo com o tempo. No entanto, com os comentários positivos sobre Andor, resolvi dar uma chance a série e, de fato, ela tem algo a dizer e o diz bem.
No plot principal, Cassian Andor, um morador de um pequeno planeta perdido na galáxia, comete um deslize e se vê diante da guerrilha rebelde como forma de escapar de sua vida sem rumo. Essa entrada de Andor no meio rebelde, no entanto, não se dá a plena aceitação logo de cara. Ele, mesmo sendo explorado e oprimido a vida inteira, está ali apenas por ganhos próprios. É só com a inserção de novos personagens, mais idealistas, e desdobramentos políticos complexos, que vemos sua guinada à revolução e que, como sabemos, o conduzirá até a missão de Rogue One.
Todo o modus operandi da sobrevivência numa ditadura, com efeito, me lembrou do incrível relato de Mario Magalhães em Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo (2012) e os movimentos de guerrilha urbana no Brasil. A série, mais do que historinha de sabre de luz e nave espacial, consegue se ater a uma temática política potente e ainda muito viva, que nos lembra um passado tenebroso e nos faz temer um possível futuro igualmente sombrio.
Claro que, no fundo, a crítica ao imperialismo, vindo da Disney, sempre poderá ir apenas até certo limite, mas até então, o que a série mostrou tem uma excelente qualidade.
A primeira temporada de Andor - em andamento - está disponível no Disney+.
INDICAÇÕES
[SÉRIE] SHE-HULK
She-hulk é o oposto de Andor. Bom, mais ou menos.
Também ando sem muita paciência para as produções atuais da Marvel Studios e ânimo que eu tinha em meados da década passada com cada novo anúncio não é nem de perto o que tenho sentido atualmente.
She-hulk, no entanto, se apresentava desde o começo como algo diferente da formulinha Marvel manjada: queria-se como uma sitcom de advogados que, por acaso, se passa nesse mundo de super-heróis e vilões. Como sou um grande consumidor de sitcoms - como pretendo detalhar num texto em breve - achei que seria uma boa pedida e, por certo, dei gostosas gargalhadas com a série.
Desde o começo ouvi críticas horríveis a série: ela não tem graça; a Jen “She-Hulk” Walters é uma Mary Sue; o CGI é mal feito; tem heróis de menos; o melhor episódio é o que o Demolidor aparece, blá blá blá. Mas se você assistir à série como uma sitcom, que era a intenção inicial da série, ela é deveras divertida e não faz questão nenhuma de se levar a sério (a não ser em suas próprias estruturas internas).
Uma crítica que ficou massante até mesmo entre pessoas que disseram gostar da série é que, em um determinado episódio, a série “para” para que Jen e She-Hulk possam ter uma resolução de conflitos. Segundo essas críticas, a condução narrativa não estaria bem feita, mas se você conhece sitcoms, é perceptível que o plot principal nessa série é o que Jen e seu alter-ego, She-Hulk, são o Ross e Rachel, Ted e Robin, Jake e Emy da série, isto é, elas são o casal que mantém uma relação de aproximação e distanciamento até o último episódio da produção e, por consequência, nos mantém na torcida para que elas entrem num acordo em seu relacionamento.
Além disso, a série é muito bem atuada, tem bons personagens e tem o tempo exato que um episódio de qualquer série deveria ter: entre 20 e 30 minutos. Ou seja, vá conferir e se divirta.
A primeira temporada de She-Hulk (não há, até o momento, previsão de uma segunda) está disponível no Disney+.
[ELEIÇÃO] VOTO DEMOCRÁTICO
Não acredito que preciso me estender muito sobre o tema.
No próximo domingo, quando ocorre o segundo turno, vote pela democracia.
A democracia é o que permite essa newsletter continuar existindo, assim como as instituições que construíram o melhor desse país.
Um forte abraço,