INDICAÇÕES
[MÚSICA] Gemini Rights - Steve Lacy
Me pegou de jeito esse novo álbum de Steve Lacy, Gemini Rights. O jovem colaborador de vários dos grandes nomes do R&B e Hip-Hop atuais, como Tyler the Creator, Solange, Kanye West, The Internet e Kendrick Lamar bem como indicado ao Grammy aos 17 anos produzindo músicas do seu iPhone parece ter levado seus talentos, agora aos 24, a um nível de profissionalização maior em seu segundo álbum lançado há apenas alguns meses.
Com uma produção mais bem acabada que seu primeiro projeto, Apollo XXI (2019), e singles envolventes como “Mercury” e “Bad Habit”, o álbum traz uma ótima mistura de R&B, funk e rock que confluem em um enredo em que vemos esse geminiano descontente com seu antigo relacionamento mas a fim de um “remember”: “Um pouco de paraíso, um pouco de desagrado/ um pouco de prazer, um pouco de depressão (…) O escopo de Gêmeos me dá profundidade até eu morrer/ Mas eu não consigo tirar essa foda da minha cabeça/ (…) Você acha que eu tenho duas caras, posso citar vinte e três.”
O álbum esbanja vibes e está disponível no Spotify, Youtube e todos os outros agregadores de música. É só dar play e curtir.
[FOTOGRAFIA] Ruth Orkin
Há pouco conheci com maior profundidade o trabalho dessa fotógrafa estadunidense através do Instagram que sua filha, Mary Engel, tem administrado e hoje venho aqui indicar esse extremamente sensível olhar fotográfico que foi o de Ruth Orkin (1921-1985).
Conhecer, por suposto, é uma palavra pouco precisa porque, dado o meu apreço por fotografia e a grandeza do trabalho de Orkin, que já fotografou personalidades como Alfred Hitchcock, Albert Einstein, Marlon Brando e Lauren Bacall, me parece leviano dizer que nunca tive a oportunidade de contemplar um trabalho seu antes.
Contudo, dada a curadoria de Engel, que explora bastante o catálogo de sua mãe, dá para perceber algo na fotografia de Orkin que a diferencia bastante dos grandes nomes da oitava arte do século XX que lhe foram contemporâneos: ao invés de explorar um tema épico (Sebastião Salgado), um momento incorrigível (Henri Cartier-Bresson) ou uma sobreposição irônica (Elliott Erwitt), por exemplo, Orkin parece desvelar de cenas banais do cotidiano urbano pequenos gestos, olhares e afetos públicos que conectam pais a filhos, namorados a namoradas, familiares a amigos e comunidades inteiras em tom único de cumplicidade e amor sem igual.
Para capturar tais momentos, Orkin se utiliza de um enquadramento geralmente intimista, quase vouyerístico que ornam perfeitamente com essas intimidades. Anedoticamente, Orkin chegou a confessar em determinado momento que ia até a movimentada Penn Station e ali procurava imagens de pessoas perdidas em seus próprios pensamentos, com poses perfeitamente modeladas sem qualquer noção disso e então tomava um enorme cuidado de ser discreta e silenciosa para fotografá-las ao ponto de esperar que houvesse um ruído que pudesse cobrir o som do obturador para tirar a foto, mesmo que isso significasse perder a mesma.
Como resultado, pode-se ver no arquivo de Orkin fotos e mais fotos que compactuam com a opinião de Miss Rosen à revista Blind quando disse, em ocasião do lançamento do livro Ruth Orkin: A Photo Spirit (2021), que “Trabalhando em vários gêneros, Orkin criou um arquivo singular da vida de meados do século XX, capturando um sentimento de otimismo que definiu o moderno”.
[BAR] Teddie’s bar
Há alguns dias estive novamente - depois de anos - no Teddie’s bar, o famoso (ou famigerado, dependendo do seu ponto de vista) bar em Viçosa frequentado por estudantes universitários, digamos, alternativos aos micareteiros, agroboys e agrogirls que conformam o mainstream do público baladeiro da cidade.
Foi muito curioso revisitar o mesmo bar em que estive 10 anos atrás, no começo da faculdade, dando meus primeiros passos na vida noturna. Por mais que houvesse pequenas diferenças aqui e acolá, tudo parecia extremamente familiar: as poses para parecer “cool”, a música alta, a bebida barata, as interações gratuitas com pessoas desconhecidas e aquela sensação de ser jovem é igualmente a coisa mais estúpida e divertida que existe na vida de uma pessoa.
Nesse sentido, mais do que o bar do Teddies em si, a minha indicação é: se você tem a possibilidade de ser jovem, seja. Cometa erros. Faça amigos. Experimente coisas, pessoas. Abuse da sua ignorância e da sua energia.
E se você já não pode ser jovem, revisite seu local de juventude. Relembre da seriedade com que você tratava tudo o que se passa por ali - os rolos, as decepções, os grandes papos filosóficos, a impregnada atmosfera de flerte e passivo-agressividade - e por mais banal que tudo isso possa parecer hoje, pense em como estas foram experiências formativas necessárias para você ser quem você é.
Até a próxima, meus caros.
Um forte abraço,
"Se você é jovem ainda, amanhã velho será. A menos que o coração sustente a juventude que nunca morrerá."